As primeiras experiências do Exército Brasileiro na operação de veículos blindados 6X6, teve início em 1942 com a celebração dos acordos Leand & Lease, que proporcionaram a cessão de lotes dos modelos dos carros T-17 Deerhound e M-8 Greyhound, a profícua utilização deste tipo de carro, tanto na campanha da Itália, quanto no Brasil tornando este tipo de veículo leve muito bem aceito pelos efetivos brasileiros. Esta realidade motivaria a equipe de projetos do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo – PqRMM/2 em 1967 a buscar o desenvolvimento de um leve blindado 4x4 para o Exército Brasileiro, este conceito geraria o VBB-1 (Viatura Blindada Brasileira 1), resultando no primeiro protótipo funcional no primeiro semestre de 1970. Este protótipo foi extremamente testado, nas mais severas condições, no entanto o interesse real do Exército Brasileiro estava focado na aquisição de um veículo 6X6.
Desta maneira a Diretoria de Motomecanizaçao definiu as especificações para o desenvolvimento de um veículo blindado de reconhecimento de reconhecimento com tração 6X6, dando início ao projeto VBB-2 (Viatura Blindada Brasileira 2), cabendo novamente ao PqRMM/2 sua execução. Com o projeto finalizado, principalmente na parte estrutural da carcaça foi acrescentada uma das torres do VBB-1, armada com um canhão de 37mm. A partir deste momento a designação do veículo passou a ser Carro de Reconhecimento sobre Rodas, tendo sua configuração sofrido pequenas modificações, principalmente nas linhas básicas, até a construção do primeiro protótipo, em 1970. Este modelo foi totalmente construído nas instalações do PqRMM/2. Mas, como era necessário estudar melhor à sua suspensão, foi adotado o sistema “boomerang” criado pela Engesa (Engenheiros Especializados S/A) a qual o aplicava em veículos civis das categorias ¼, ½ e 5 toneladas.
O principal calcanhar de Aquiles do projeto era representado pela carência de torres, desta maneira optou se por desenvolver uma nova com base nas torres do M-8 Greyhound, com a produção de oito unidades ficando a cargo da Companhia Siderúrgica Nacional, esta nova peça em relação a original apresentava um alongamento na parte traseira para assim abrigar o sistema de rádio, tinha ainda a previsão para receber um canhão de 37mm e uma metralhadora coaxial.30. Após testes práticos, elaborados pelo Exército Brasileiro e supervisionados pela equipe do PqRMM/2, foi decidido a construção de cinco veículos pre serie, sendo elevado para oito no ato da assinatura do contrato com a Engesa em 1971, com a produção começando no ano seguinte, sendo concluída em setembro de 1975. Estes veículos contavam com uma nova torre, uma versão modificada do modelo utilizado no carro de combate leve M-3 Stuart.
Estes oito veículos foram submetidos a um intensivo programa de testes e avaliação, englobando 32.000 km de rodagem entre as cidades de São Paulo, Uruguaiana, e Alegrete, as provas consistiram em andar 24 horas por dia, parando apenas para a troca equipe e abastecimento, se avaliando os defeitos que iam surgindo ao longo deste processo. Depois de reparados e corrigidas as falhas, os blindados voltavam a campo. A partir desta etapa inúmeras alterações foram implementadas, incluindo a troca da torre, incorporando se novamente uma peça derivada do M-8 Greyhound, com alongamentos laterais e traseiros. Essa versão foi sendo aprimorada gradativamente, culminando numa torre mais moderna, com visores laterais e baixo perfil.
Aprovado nos testes, o projeto recebeu a nova designação de Carro de Reconhecimento Médio (CRM), permanecendo a sua base como padrão de produção seriada, neste estagio o blindado começou a despertar o interesse no mercado internacional. O CRM passou a ser denominado como EE-9 Cascavel, sendo o EE uma abreviatura de Engenheiros Especializados S/A , e o número 9 a representação de sua tonelagem e Cascavel por ser o nome de uma cobra venenosa brasileira. Além da encomenda brasileira, o modelo receberia seu primeiro grande contrato de exportação em 1976, com uma encomenda de 200 unidades, tendo como exigência básica que os carros fossem armados com canhões de 90mm, o que foi sanado com a importação de torres e canhões franceses, recebendo o batismo de EE-9 Cascavel MKII. O próximo cliente seria o Exército Chileno com 106 unidades vendidas, novamente a Líbia assinaria um novo contrato para o fornecimento de mais 200 carros agora equipados com torres nacionais e canhões belgas Cockerill de 90mm, recebendo a denominação de Cascavel MKIII.
O batismo de fogo do Cascavel ocorreu em 1977 quando forças líbias confrontaram o exército egípcio, conquistando papel decisivo nesta batalha devido a sua mobilidade e velocidade, conseguindo chegar a frente de batalha na metade do tempo gasto pelos carros de combate russos T-62, este êxito na batalha serviu de ferramenta de propaganda internacional do modelo de carros de combate leve sobre rodas 6X¨6 da Engesa, levando a novas encomendas para o Iraque, Burma, Colômbia, Chipre, Congo, Equador, Gabão, Gana, Ira, Nigéria, Paraguai, Catar, Togo, Uruguai, Zimbabwe, Tunísia, Suriname e Burkina Faso. Ao todo foram produzidas 1.738 unidades dispostas em 4 versões, versões modernizadas estão ainda em uso em diversos países no mundo.
Emprego no Brasil.
A conclusão dos testes de campo com os oito carros pre serie em 1976, levou a formatação da versão final designada EE-9 Cascavel MKI, este passo levou a formalização do primeiro contrato de produção, transforme em pedido firme a opção de compra de mais de 102 unidades no inicio do projeto em 1970, assim desta maneira no mesmo começaram as entregas das primeiras unidades que totalizaram 110 veículos, incluindo os oito protótipos inicias. Foi criado pela Diretoria de Motomecanizaçao uma diretriz para a implementação do novo
Após finalizado este processo os EE-9 Cascavel MKI começaram a ser distribuídos aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada e Esquadrões de Cavalaria Blindada, atuando em substituição aos derradeiros M-8 Greyhound. Devido a seu canhão de 37mm esta versão viria a receber entre as fileiras do exército a denominação de Cascavel Magro. Este modelo inicial adotado pelo Exército Brasileiro possuía 6,20 m de comprimento, 2,64m de largura, 2,95m de altura, peso de 13,7 ton, velocidade máxima de 100km/h e autonomia de 750 km. Empregava um motor nacional Mercedes Benz OM 352A de seis cilindros em linha e 174hp. Possuía um nível de blindagem aceitável para as ameaças da época, sendo uma proteção frontal incluindo a torre de 16mm e lateral de 8,5mm.
No final da segunda metade da década de 1970, o Exército Brasileiro possuía em seus regimentos de cavalaria mecanizada, cerca de 102 EE-9 Cascavel MK-I operacionais, e estava atento as demandas e exigências apresentadas por clientes externos da Engesa, o principal fator evolutivo era o novo canhao belga Cockerill de 90mm, que superava em poder de fogo a obsoleta arma de cano de 37m, também diferenciais como novos equipamentos diretores de tiro, telêmetro laser e comunicação, se mostravam importantes avanços a serem absorvidos pelo Exército Brasileiro. Desta maneira no início de 1977, oito veículos da versão Cascavel MKI pertencentes aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada, foram encaminhados a Engesa para servirem de protótipo a um processo de atualização para a versão MKIII. Inicialmente a primeira mudança básica foi a substituição da torre original pela nacional destinada a acomodar o novo canhao de 90 mm, nascendo assim o Modelo M2 Serie 3 o qual serial convertidos cerca de 60 unidades. Também seriam encomendados entre 1977 e 1980 mais 55 unidades novas de fábrica da versão M2 Serie 5
A introdução do Engesa Cascavel MKI junto aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada e Esquadrões de Cavalaria Blindada Exército Brasileiro, promoveu na força um elevado salto quantitativo e qualitativo, pois trouxe uma disponibilidade de operação que não era experimentada há anos, devido à idade da frota anteriormente empregada que remontava a década de 1940. O gradativo recebimento das novas versões Cascavel MK-III dos modelos M6 Series 3,4 e 5 e M7 Series 8 e 9 no início e meados da década de 1980 relegaram o Cascavel Magro a unidades de segunda linha e atividades de treinamento nas unidades do Exército Brasileiro, sendo que as últimas unidades foram retiradas do serviço ativo no início da década de 1990.
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