A segunda metade da década de 1930 presenciou um forte programa de rearmamento da Alemanha que era regida pelo partido nazista, este processo focava o desenvolvimento de novos conceitos e tecnologias em equipamentos e armas, e um dos pilares deste programa envolvia o desenvolvimento de carros de combate blindados, que se caracterizavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo, que eram superiores a maioria de seus pares disponíveis na época.
Atentos as possíveis ameaças futuras, o comando do Exército Americano iniciou em fins desta mesma década um programa de estudos visando o desenvolvimento de blindados que pudessem a rivalizar com os novos carros de combate alemães, pois naquele período a espinha dorsal de seus carros de combate era representada pelos tanques leves M-3 Stuart dotados de canhões de 37 mm. A premissa básica era criar um novo modelo que pudesse fazer uso de armas de 75 mm, nascendo assim em 1941 o primeiro protótipo do tanque médio M-3 que seria posteriormente batizado como Lee ou Grant, apesar de atender a demanda básica no porte do canhão de 75 mm, o blindado apresentava três pontos negativos graves, como perfil elevado, baixa relação de peso e potência e pequeno deslocamento lateral do canhão pois o mesmo estava instalado no chassi. Em função da emergencial necessidade de se suprir as forças britânicas com blindados, estas deficiências foram ignoradas e milhares de carros foram empregados na campanha do deserto africano nas primeiras fases da guerra
O desempenho observado em combate real, levou os americanos a repensar seu projeto e assim em outubro de 1941 o protótipo do novo carro denominado como Medium Tank M4 deixava a linha de produção. Basicamente este novo modelo herdava o mesmo chassi e a eficiente suspensão VVSS (Vertical Volute Spring Suspension) de seu antecessor e como novidade principal passa a contar com uma torre giratória com acionamento elétrico ou hidráulico, armada com um canhão de 75mm, sua motorização consistia de um motor radial Wright Continental R975, a gasolina, com peso bruto de 30 ton. O projeto com um todo era pautado pela simplicidade, visando assim facilitar a produção em massa (com uma previsão de entrega de 2.000 unidades mês) no intuito de suportar a crescente demanda dos aliados.
A primeira versão a entrar em produção foi o M4A1, em fevereiro de 1942, seu chassi era uma única peça fundida e composta por bordas arredondadas, estava equipado com um motor Wright Continental R975 Whirlwind a gasolina. Este modelo foi seguido pelo M4A2 originalmente destinado ao Corpo de Fuzileiros Americano (USMC), pois estava dotado com o motor a diesel GM Twin 6-71 e empregava o mesmo combustível dos navios americanos facilitando assim a logística. A terceira versão M4A3 equipada com um motor a gasolina Ford GAA V-8 de 500 cv foi adotada pelo exército em virtude de sua maior potência. A versão original M-4 só estaria disponível em julho de 1942 e apesar de visualmente ser idêntico ao M4A1, deferia deste por não ter o chassi composto em uma peça só e sim por chapas retas soldadas, e as primeiras unidades produzidas apresentavam um sistema de blindagem frontal tripartida unida com parafusos como uma flange (herança direta do antigo M3 Lee).
Seu batismo de fogo ocorreu em 23 de outubro de 19421, quando o 8º Exército Americano iniciou sua segunda ofensiva na Batalha de El Alamein, na Tunísia no norte da África, em condições reais o M4 se mostrou muito superior ao M3 Lee/Grant, porém a falta de experiencia das tripulações americanas resultaram em pesadas perdas junto a 1º Divisão Blindada na batalha de Kasserine em fevereiro de 1943. Sua estreia no teatro de operações europeu ocorreu durante a operação Husky, a invasão da Sicília, quando foram empregados ao lado dos carros de combate leve M-3 Stuart. Durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial o modelo e suas variantes foram empregados em todos os teatros de operações, tendo destacado papel nas principais batalhas. Sua produção foi encerrada em 1945, sendo entregues 49.234 unidades, das quais 6.748 da versão M-4, sendo construídas pelas plantas da Baldwin Locomotiva Works, Pressed Steel Car Company, American Locomotive Co, Pullman-Standard Car Company e Detroit Tank Arsenal.
Os M-4 Sherman começaram a ser desativados no Exército Americano em 1957, sendo fornecidos aos milhares as nações aliadas durante o conflito nos termos do Leand & Lease Act e posteriormente via MAP (Military Assistance Program) na década de 1950 aos países alinhados aos Estados Unidos, totalizando 47 países que o empregaram até fins do século XX
Emprego no Brasil.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas quanto no estabelecimento de pontos bases aéreas e portos na região nordeste destinados ao envio de tropas, suprimentos e armas para os teatros de operações europeu e norte africano. Porém naquele período as forças armadas brasileiras ainda signatárias da doutrina militar francesa estavam equipadas com equipamentos obsoletos oriundos da Primeira Guerra Mundial, e se fazia necessário proceder uma ampla modernização de seus meios e doutrinas, esta necessidade começaria a ser sanada com a adesão do Brasil aos termos do Leand & Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), proporcionando ao pais acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate.
Neste pacote estavam 53 unidades de carros de combate Sherman novos divididos entre as versões M4, M4 Composite Hull, que foram recebidos no porto do Rio de Janeiro a partir do primeiro semestre de 1945. A inclusão deste modelo no Exército Brasileiro veio a trazer avanços até então inéditos pois eram superiores aos M3 Stuart e M3 recebidos entre 1941 e 1945. Apesar de contarem com o mesmo canhão M3, de 75 mm dos Lee já em uso, os Sherman dispunham de um sistema de giro-estabilizador (somente no uso vertical), sendo um dos primeiros carros de combate a dispor deste dispositivo, de um sistema de partida elétrica, e juntamente um pacote de munições fornecidas estavam os tipos M61 Armour Piercing Capped - APC, M72 Armour Piercing (AP) e M-84 High Explosive (HE), com uma cadencia de disparo de 20 tiros por minuto, que traziam os Batalhões de Carros de Combate ao estado da arte na época.
Os carros das duas versões M4 e M4 Composite Hull foram inicialmente alocados junto ao 1º Batalhão de Carros de Combate (1º BCC) que estava baseado no antigo Derby Club, na cidade do Rio de Janeiro, quando os tripulantes foram submetidos ao processo de treinamento e incorporação de equipamento. Os M-4 recebidos estavam divididos em duas subversões a primeira que é considerada como Early Production (ou primitiva) que como principal característica tinha a a blindagem frontal tripartida, e Early Fused Front que foi a mais produzida da série M4, que mantinha a blindagem fundida padrão de todas as versões do Sherman produzidos, estima-se que foram recebidas 28 unidades deste modelo em 1945.
Externamente o M4 possuía uma carroceria blindada formada por chapas soldadas e em ângulo reto, com uma blindagem inclinada em 60º, os veículos recebidos no primeiro lote estavam equipados com um morteiro lançador de projeteis fumígenos, curiosamente todos tinham a provisão para um lancha chamas MK1, porém não existem registros confiáveis que apontem o uso deste equipamento pelo Exército Brasileiro
Durante sua carreira os M4 Sherman foram operados também pela Escola de Motomecanização, 2º Batalhão de Carros de Combate, 6º Regimento de Cavalaria Blindada, 9º Regimento de Cavalaria Blindado e Academia Militar das Agulhas Negras. Apesar de algumas dificuldades técnicas enfrentadas na operação dos motores radiais Wright Continental R975 Whirlwind a gasolina, geradores auxiliares e caixas reguladoras devido a problemas no fluxo de peças de reposição, a frota de M4 brasileiros sempre apresentam bons indicies e disponibilidade sendo este patamar atingido graças a soluções “caseiras” das equipes de manutenção que empregaram desde componentes dos motores das aeronaves Stearman A-76 desativados da FAB até componentes canibalizados dos antigos M-3 Lee.
Com o advento do recebimento dos carros de combate médios M-41 Walker Buldog a partir de meados da década de 1960, o Exército Brasileiro iniciou o processo de desativação dos M4 ainda operacionais, sendo os últimos retirados do serviço ativo somente em 1978.
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