sábado, 20 de maio de 2017

JAMY

Jamy Indústria e Comércio de Máquinas e Ferramentas Ltda. era uma empresa fabricante de bens de capital do Rio de Janeiro (RJ), produtora de prensas hidráulicas, furadeiras industriais e máquinas extrusoras. No início dos anos 70, atendendo a demanda do Ministério da Aeronáutica, a empresa projetou e colocou em produção os primeiros veículos brasileiros de combate a incêndio em aeroportos, do tipo chamado ataque rápido, o Pioneiro I, equipado com tanques de água (1.800 l), espuma e pó químico, e o Pioneiro II, apenas com pó químico. Ambos eram construídos sobre caminhões Chevrolet a gasolina com 131 cv e tração 4×4, tendo sido fornecidos mais de 180 deles para diversos aeroportos do país. Também para a Aeronáutica a Jamy projetou e forneceu as primeiras varredeiras mecânicas aqui fabricadas; montadas sobre Mercedes-Benz 1114 e equipadas com escovas e aspiradores com alto poder de sucção acionados a motor diesel, foram aplicados como limpa-pistas em aeroportos.
Em 1976 a empresa venceu nova licitação do Ministério da Aeronáutica, agora para fornecer carros-bombeiro tipo ataque principal, mais rápidos e com maior poder de reação do que os anteriores. Denominado Pioneiro III, o caminhão foi desenvolvido segundo projeto do CTA. Desta vez foi utilizado como base mecânica um chassi Scania L-111, sobre o qual foi montada uma carroceria especial com cabine para seis homens, tanques de água (7.000 l) e espuma e um canhão d’água telecomandado com alcance de 70 metros. O chassi, originalmente com tração traseira, foi transformado em 4×4 pela própria Jamy, que para isto desenvolveu e colocou em produção todos os componentes necessários – caixa de transferência, juntas homocinéticas, roda-livre e sistema pneumático de engate da tração total (ao conjunto, disponibilizado para qualquer marca de caminhão nacional, foi dado o nome comercial Jamy 4). O Pioneiro III foi apresentado na I Brasil Transpo, em agosto de 1978; para construí-lo, a empresa alterou a razão social para Sociedade Industrial de Equipamentos Especiais Ltda..
A motivação para a mudança de nome, no entanto, era outra: ainda que tardiamente, a Jamy (que continuava a existir como marca) pretendia ingressar no segmento de veículos militares, no qual a Engesa reinava quase sozinha havia anos. (O sistema de tração Jamy 4, aliás, tinha como principal objetivo conquistar parte do mercado da Engesa, que desde 1966 dispunha de sistema equivalente, chamado Tração Total.) O primeiro projeto realizado sob as novas diretrizes da empresa foi a mula-mecânica Safo, desenvolvida em conjunto com o IME. Concebido como veículo aerotransportado para atuar em qualquer terreno, o Safo (sigla de Sistema de Alta Flexibilidade Operacional) era dotado de motor Volkswagen 1300 de 38 cv, tração nas quatro rodas, transmissão por correntes, quatro freios a disco instalados nas saídas da caixa de transferência e pneus largos de baixa pressão, próprios para solos moles e desconexos. O carro possuía um engenhoso sistema de suspensão, segundo o qual os braços traseiros (que encerravam as correntes que levavam o movimento da caixa de transferência às rodas) podiam ser articulados para adiante. Parte da plataforma de carga era então rebatida, ficando o comprimento total do veículo reduzindo a 2,45 m (79 cm a menos), interessante artifício para operações que envolvessem transporte aéreo. Estavam previstas várias versões: carga, transporte de tropas, anti-tanque, além de porta morteiros, canhões e metralhadoras.
O segundo projeto militar da Jamy, também desenvolvido com o IME, foi o Safo Comando. De concepção extremamente moderna para a época, antecedeu em quase 20 anos a Viatura Leve de Emprego Geral Gaúcho, construída com características semelhantes já no século XXI. Tinha estrutura tubular de aço, incluindo santantônio, motor traseiro Chevrolet a álcool (171 cv), diferencial autoblocante, suspensão independente por molas helicoidais, direção hidráulica e quatro freios a disco nas saídas do diferencial; a transmissão era automática, com conversor de torque e caixa de transferência com reduzida e tomada de força para guincho. Rodas e pneus eram do Dodge Commando norte-americano, veículo da II Guerra da categoria de 3,5 t, então ainda em uso pelo Exército Brasileiro, que o Safo se propunha substituir. Cada um dos modelos teve dois protótipos concluídos, mas, apesar de testados com sucesso, nenhum recebeu encomendas.
Dispondo de excelente equipe técnica, porém com fraca capacidade gerencial, a Jamy teve queda tão meteórica quanto foi a sua ascensão. Sem demanda, com excessiva verticalização e elevados custos administrativos, em 1981 a empresa entrou em processo de falência.

 

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