sábado, 20 de maio de 2017

TEREX

Divisão de equipamentos para construção pesada criada pela General Motors em 1968, após ver-se obrigada a se desfazer da Euclid por força da legislação anti-trust dos EUA. No Brasil, a GMsoube aproveitar as oportunidades geradas pelas grandes obras de infra-estrutura dos anos do “milagre econômico” e, com o peso da sua marca, quase de imediato assumiu a dianteira na venda de máquinas pesadas no mercado interno.
A Terex foi uma das primeiras empresas estrangeiras a atender ao apelo do governo para a nacionalização de equipamentos pesados, já no início de 1972 tendo apresentado carta de intenções ao CDI nesse sentido. A cidade escolhida para sediar a fábrica foi Contagem (MG), em parte pelo fomento desde 1970 realizado pelo governador mineiro, mas principalmente pelos incentivos oferecidos à empresa pelo Estado e Município. Seus planos compreendiam a fabricação de toda a linha de produtos, com meta de 50% de nacionalização (em peso) e 300 unidades/ano em 1974, começando por caminhões para 20 e 35 t, seguidos de motoscrapers, carregadeiras e tratores de esteiras.
Em agosto de 1973 foi apresentada a primeira máquina Terex fabricada no país, o scraper TS-14B (dois motores Detroit de dois tempos, com seis cilindros e 144 cv, seis marchas e 15,3 m³ de capacidade), logo acompanhado do caminhão fora-de-estrada R-22, ainda construídos em instalações provisórias em Belo Horizonte (que, ampliadas e oficialmente inauguradas em outubro de 1974, viriam a ser definitivas). O caminhão, com capacidade para 22 t (ou 14 m³), possuía motor Detroit de 236 cv, câmbio de seis marchas com engate automático, conversor de torque e retardador de frenagem, tração traseira, suspensão independente por molas helicoidais na frente e feixe de molas atrás, freios pneumáticos a tambor e direção hidráulica. A cabine recebia isolamento acústico reforçado e vidros de segurança.
Dois outros veículos foram lançados em 1975: o terceiro produto brasileiro da marca – a pá carregadeira 72-51, da categoria de 17 t, com 194 cv e capacidade de 3,06 m³ – e seu segundo caminhão, o modelo R-35, para 22 m³ e 35 t, inicialmente equipado com motor Detroit V12 de 394 cv importado, em 1980 substituído por um Scania nacional de 382 cv (quando passaria a se denominar R-35C). Os dois caminhões se assemelhavam na arquitetura básica.
Em 1976, quando toda a linha de produtos (exceto a pá) já alcançava 80% de conteúdo local, a Terex colocou no mercado mais um modelo de scraperTS-24, para 24 m³, com dois motores Detroit de dois tempo (V12 de 394 cv, no trator, e V8 de 266 cv na unidade de raspagem), e caixa semi-automática de seis marchas. Utilizando a mesma unidade tratora, foi também disponibilizado um veículo de transporte e aspersão de água, próprio para manutenção de estradas de serviço em grandes construções. O equipamento compreendia tanque de 39 mil litros e bomba com vazão de 2.600 l/min (apenas o trator era motorizado).
Naquele ano a empresa iniciou a expansão da fábrica, visando duplicar a capacidade, incrementar o índice de nacionalização, viabilizar o aumento das exportações (então na casa dos 10%) e introduzir novos produtos no mercado. Em 1977, fabricou sua 1.000ª unidade no país. Contudo, apesar das expectativas e do plano de expansão, somente na segunda metade de 1978 novo equipamento seria lançado: em agosto, na I Fenacon – feira de construção pesada paralela à I Brasil Transpo –, foi mostrado o novo caminhão 33-09, para 55 t e 41,6 m³, anunciado dois anos antes. Apresentando 73,5% de nacionalização (em peso), tinha motor Detroit V16 de 624 cv e caixa totalmente automática, ambos importados, retardador, suspensão com cilindros de nitrogênio-óleo de carga variável (independente na dianteira), direção hidrostática, freios a ar com circuitos independentes e, como opção, ar condicionado.
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Em seus quarenta anos de existência no Brasil – e numa escala surpreendentemente decrescente -, a Terex começou produzindo equioamentos complexos como este motoscraper TS-14B e se retirou fabricando máquinas de pavimentação de pequeno porte (fonte: site blackwood-hodge.typepad).
Também o projeto da pá carregadeira foi atualizado, sendo o modelo anterior substituído pelo 72-52B, maior e mais potente, com motor Cummins de 224 cv, freios a disco nas quatro rodas e caçamba com 3,4 m³ de capacidade. Por fim, sempre em 1978, além de receber algumas melhorias mecânicas, o scraper TS-24 ganhou carroceria mais moderna, ao estilo do modelo menor.
Em setembro de 1980 a GM surpreendeu o mundo dos negócios com a venda mundial da Terex para o grupo alemão IBH. Fundado em 1975, o IBH crescera rapidamente por meio da compra de diversas empresas fabricantes de máquinas de construção; sem estrutura financeira para suportar tantas aquisições, em novembro de 1983 o Grupo teria a falência decretada. Por fatalidade, os novos controladores assumiram a filial brasileira em janeiro de 1981, com o país mergulhado em profunda recessão, com paralisação de obras públicas, cancelamento de licitações e produção de bens de capital em queda.
Inicialmente toda a linha de equipamentos foi mantida em produção pela IBH, com algumas alterações. Com o encerramento da fábrica brasileira da Detroit, os motores de menor porte foram substituídos por unidades Cummins; foi também lançada mais uma versão do moto-irrigador (TT-24), com dupla motorização. O caminhão menor ganhou transmissão semi-automática, passando a denominar-se R-22C, a seguir substituído pelo reestilizado 33-03B, para 20,0 m³, graças à caçamba maior, equipada com tampa traseira.
A crise, porém, logo alcançou a filial brasileira, que em janeiro de 1982 procedeu à sua primeira – de uma série – de demissões. Quebras inesperadas nas exportações impediriam que a empresa cumprisse suas metas com o Befiex naquele ano. Com o mercado interno paralisado e enorme ociosidade, a Terex começou 1983 com a força de trabalho reduzida a menos de 1/3. Para ocupá-la, passou a aceitar encomenda de serviços de caldeiraria, usinagem e mecânica pesada, chegando a fornecer chassis e estruturas para viaturas militares da Avibrás Engesa.
O ano de 1983 se encerrou, portanto, com o Grupo IBH em processo de liquidação. A filial brasileira se manteve em operação, administrada por um quadro de brasileiros nomeado pelo síndico da massa falida. (Em poucos meses, a importante filial escocesa da Terex seria comprada de volta pela GM, enquanto que a Daimler-Benz adquiria da IBH sua unidade de veículos comerciais Hanomag.) O mercado se mostrou um pouco mais favorável, em 1984, e a fábrica mineira retomou lentamente o ritmo de produção. As vendas externas voltaram a crescer, inclusive pela demanda por modelos – como os caminhões fora-de-estrada de menor porte – dos quais a Terex do Brasil passara a ser a única fabricante.
No início de 1985 foi fechado um acordo entre a empresa, a GM e um conjunto de bancos brasileiros, segundo o qual estes assumiriam as dívidas da Terex, que assim se desvincularia definitivamente do Grupo IBH, afastando o risco iminente de falência. Em paralelo, a empresa brasileira ganhou o direito de uso da marca, permitindo-lhe manter-se em produção regular.
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Em seus primeiros dez anos, a Terex do Brasil foi um dos maiores fornecedores de caminhões extra-pesados do país; na imagem o modelo 33-09B, o último aqui produzido  (fonte: site cgaequipement).
A ociosidade permanecia elevada, contudo, e a Terex procurou novos caminhos. Uma das saídas encontradas foi a fabricação de veículos militares, setor que na altura ainda vivia momentos pujantes. Aproveitando-se da rede de relações criada nos anos do “milagre” e da experiência adquirida no fornecimento de componentes para Avibrás e Engesa, construiu dois protótipos para o Exército: uma caminhonete de ¾ t (UAI M1-34) e um caminhão de 4 t (UAI M1-50), este fabricado em pequena série de cerca de 80 unidades. O primeiro, concebida para uso múltiplo (transporte, ambulância, reconhecimento, comando ou rádio), tinha motor diesel Perkins de 85 cv, caixa de cinco marchas e tração nas quatro rodas, podendo tracionar até 1 t. Apenas um protótipo foi construído. O caminhão tinha tração 6×6, motor Scania turboalimentado de 209 cv, caixa de seis marchas e suspensão por feixes de molas, do tipo boogie na traseira. Ambos possuíam direção hidráulica e cabine com capota de lona e para-brisa rebatível.
A derrocada do setor bélico nacional na segunda metade da década de 80 fecharia mais esta porta para a Terex brasileira. Em 1985 a empresa ainda fazia planos de recuperação: pretendia lançar duas pás de menor porte, um scraper para 10 m³ e um modelo intermediário de caminhão, para 35 t. Nada disto se concretizou. Sem encontrar comprador, a filial brasileira foi encerrada no ano seguinte.
Nos EUA, já em 1987 a GM revenderia a Terex escocesa para a Northwest Engineering, grupo empresarial de história recente, que teve crescimento exponencial a partir de 1985, quando assumiu o controle da Bucyrus-Erie e, no ano seguinte, da Koehring. Após a compra da Terex, a Northwest – já sob a nova razão social Terex Corp., assumida em 1988 – continuaria sua política agressiva de aquisições, absorvendo importantes fabricantes internacionais de equipamentos de construção e movimentação de materiais: Unit Rig, Fruehauf, Clark Material Handling (mais tarde repassada para um grupo coreano), divisão de mineração da O&K, Payhauler, CMI, Genie e Demag Cranes. A Terex é hoje o terceiro maior grupo mundial do setor.
A empresa retornou ao Brasil como fabricante em 2001, através de sua subsidiária CMI, ao adquirir a empresa Cifali e Cia., de Cachoeirinha (RS), tradicional fabricante de máquinas de pavimentação, com carteira composta de grande variedade de equipamentos fixos, tracionados, embarcados e autopropelidos. Sob a razão social Terex Cifali Equipamentos Ltda., a linha de máquinas da Cifali permaneceria em produção por mais cinco anos, inicialmente como CMI-Cifali, só em 2006 passando a receber a marca e as cores da Terex.
Nesse meio tempo, porém, novos modelos foram incorporados, como a linha 400 de vidroacabadoras compactas, para largura de pavimentação de até 4,0 m. Lançada em 2002, trouxe diversos melhoramentos, sendo os principais a possibilidade de conversão do sistema de tração em pleno local de trabalho, de esteiras para pneus (e vice-versa), e a mesa extensível hidráulica (entre 2,5 e 4,0 m), facilitando muito o transporte da máquina; com esta solução a máquina passava a caber em containers (para operações de exportação) e em semi-reboques normais (dispensando a exigência  de licença especial nos deslocamentos rodoviários). Disponível em três versões (400, 411 e 421), tinha transmissão hidrostática, direção por joystick, depósito de asfalto para 11 t e toldo de proteção do operador com altura ajustável.
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Na década de 80, buscando ocupar a crescente capacidade ociosa de suas instalações, a Terex ingressou no segmento de viaturas militares com dois modelos, incorporados em pequeno número à frota do Exército; aqui, o caminhão UAI M1-50 (fonte: site caminhaoantigobrasil).
Em 2006 a Terex Corp. redefiniu o papel de sua filial brasileira, tornando-a um dos centros mundiais de fornecimento de equipamentos de pavimentação. Após alterar a razão social para Terex Roadbuilding Latin America e definitivamente adotar a identidade mundial da marca nos produtos nacionais, lançou as novas Séries 600 e 700, com as mesmas vantagens apresentadas pela Série 400, porém com 6,0 e 7,5 m de largura de pavimentação e motor diesel Cummins de 117 e 154 cv, respectivamente. A Série 400, por sua vez, foi modernizada, sendo oferecida com três opções de motor: MWM de 73 cv (de série) ou Cummins de 76 e 100 cv.
Duas importantes novidades foram apresentadas na feira M&T 2009: a acabadora VDA 700SM, com motor Cummins de 154 cv, transmissão hidrostática direta nas esteiras, mesa extensível hidráulica para até 4,9 m (ou 5,5 m, com extensão mecânica), depósito de mistura para 12 t, moderno sistema de comando hidráulico e controle eletrônico de acabamento, assegurando novo padrão de qualidade do piso. O segundo lançamento foi a fresadora de asfalto de pequeno porte PR 260, para desbaste de até um metro de largura, desenvolvida em conjunto pelas fábricas do Brasil e EUA. Entre suas características marcantes estavam: motor Cummins de 250 cv, sistema de direção eletro-hidráulico por joystick atuando sobre três lagartas (dianteiras e traseira direita), nivelamento hidráulico automático, esteira transportadora frontal (operador e máquina trabalham de frente para o caminhão que recebe os resíduos), esteira articulada para reduzir o comprimento de transporte, ferramentas de fresa de alto rendimento, retirando até 30 cm de espessura em uma única passada, e sistema rápido de troca de ferramentas de corte.
Em 2012, por fim, dando mais um passo no lento processo de diversificação da produção nacional, a Terex iniciou a montagem no país, com componentes importados, da grua sobre pneus RT 555 Progress, para terrenos difíceis. Equipada com motor Cummins de 185 cv, tração 4×4, dois eixos direcionais e caixa de seis marchas com conversor de torque, tinha capacidade para 50 t e lança telescópica com alcance de quase 34 m (ou 50,9 m, com extensão).
O excelente desempenho econômico do país na primeira década do novo século trouxe ótimos resultados para a empresa: entre 2009 e 2010, em plena retração mundial, enquanto que seus negócios internacionais regrediam 50%, a Terex cresceu 15% no Brasil. Tal desempenho levou a empresa a anunciar, em 2010, a decisão de construir nova planta no país, em Guaíba (RS), em terreno anos antes destinado à Ford (que acabou por se instalar na Bahia). Com capacidade dez vezes maior do que a unidade de Cachoeirinha, ali seriam também fabricados produtos de outras linhas, inicialmente com cerca de 40% de nacionalização, progressivamente crescendo até 60%, para obter financiamento da Finame.
Apesar dos planos ambiciosos e das boas perspectivas, no entanto, por conta de novas mudanças em suas estratégias globais, em fevereiro de 2013 a Terex Corp. se desfez de seus negócios de pavimentação, vendendo a linha brasileira de usinas, fresadoras e vibroacabadoras para o grupo francês Fayat, controlador da Bomag e Marini. Assim, a empresa norte-americana mais uma vez abandonava a produção local e voltava a comercializar no país apenas máquinas importadas, de diversas categorias e procedências, tais como pás carregadeiras alemãs, retroescavadeiras francesas e mini-carregadeiras norte-americanas.

 

TECHNO CAR

Techno Car – “Tecnologia em Carrocerias” é marca de fantasia Guevel Veículos Especiais Ltda., transformadora de veículos instalada em 1996 em Itaquaquecetuba (SP). Embora tenha como atividade principal a construção de cabines-duplas e a adaptação de furgões e vans para usos especiais (ambulâncias, transporte de detentos, carros funerários, unidades móveis e viaturas policiais), desde cedo a empresa participa de projetos de militarização de veículos em colaboração com os órgãos de engenharia das Forças Armadas.
No início do século corrente realizou três projetos sobre Land Rover nacionais: além de proceder à militarização de uma série de jipes Defender 110 para o Corpo de Fuzileiros Navais (capota de lona mais alta, portas de lona, estepe sobre o capô, galão para combustível, pás, snorkel, guincho, engates, grade protetora dos faróis, elementos especiais de iluminação e sistema de telecomunicações), submeteu ao Exército mais dois veículos. O primeiro, apelidado Saicã, também sobre Defender 110, foi preparado para operar em Pelotões de Cavalaria Mecanizada e Exploradores; além dos equipamentos usuais, recebeu estrutura tubular sob a capota de lona e para-brisa dividido em dois, permitindo rebatimento independente. O segundo veículo, que partiu do Defender 130 cabine-dupla, foi adaptado para o transporte misto de carga e soldados; também tinha capota e portas de lona e saias laterais sob a caçamba reduzidas em altura.
A inesperada interrupção da produção nacional do Land Rover, em 2005, inviabilizou os dois projetos. Posteriormente foi preparada a versão militar do caminhão Volkswagen 13.180, 4×4 com suspensão elevada, rodado traseiro simples, cabine aberta com capota de lona, para-brisas planos rebatíveis, grade suplementas, carroceria metálica, guincho e demais equipamentos de praxe.
Além do Exército Brasileiro, a Techno Car é credenciada como transformadora para militarização de veículos  pela Volkswagen/MAN, Land Rover e Toyota.

 

MOTO PEÇAS

Fundada em 1956, a Moto-Peças S.A. Transmissões e Engrenagens foi a maior indústria brasileira de componentes de câmbios e diferenciais da década de 70. Com instalações industriais em São Paulo e Sorocaba (SP) participou, sob coordenação do Exército, de diversos projetos de revitalização de equipamento militares ultrapassados ou de difícil manutenção. O trabalho conjunto com as Forças Armadas teve início em meados dos anos 70, quando modernizou cerca de 30 tratores de artilharia M-4, fabricados pela Allis-Chalmers na década de 40. A reforma envolveu a troca da caixa de marchas, transmissão, motor (por Scania de 260 cv), esteiras, roletes e suspensão (os três últimos fornecidos pela Novatração). Logo a seguir a empresa projetou e produziu as caixas de marcha para a série de blindados X-1A2 Carcará, fabricados pela Bernardini, estes derivados da modernização dos tanques M3 Stuart da II Guerra Mundial. Inspirada por estas duas experiências a Moto Peças cogitou, no final da década, também produzir máquinas para uso civil, esboçando planos de aqui fabricar tratores agrícolas da norte-americana White; a idéia, contudo, não frutificou.
No início da década seguinte, em conjunto com o CTEx, a empresa desenvolveu um projeto de aproveitamento dos velhos tanques Sherman M-4, dos quais o Exército possuía grande quantidade, transformando-os em carros blindados para engenharia. Montados sobre o chassi do M-4, do qual utilizava a suspensão e transmissão, foram equipados com lâmina frontal (intercambiável com um caça-minas) e grua hidráulica com lança rebatível e capacidade de içamento de até 10 t. Comportando tripulação de até oito homens, pesavam 29 t e conseguiam arrastar viaturas de até 40 t. Foi preparada uma pré-série de onze veículos, porém o resultado dos testes não foi satisfatório e o carro não chegou a ser homologado. Projeto mais bem sucedido foi o repotenciamento da frota de 72 obuseiros M-108 do Exército; fabricados na década de 60 e recebidos dos EUA em 1972, tiveram seu motor Detroit V8 diesel de cara manutenção substituído por um Scania nacional de 385 cv.
Na mesma época a Moto Peças foi responsabilizada pela modernização dos anfíbios M113, dando origem à série M113-B. Lançados em 1960, nos EUA, eram veículos leves para transporte de tropas (9 t), blindados em duralumínio, dos quais o Brasil recebera uma frota de mais de 500 dez anos depois. A reforma envolveu a substituição do motor original, um V8 Chrysler de 215 cv a gasolina, com o elevadíssimo consumo de um litro por quilômetro, por um diesel nacional (Mercedes-Benz de seis cilindros e 180 cv); mantendo o desempenho, a troca permitiu aumentar a autonomia em mais de 70%. Também foram substancialmente alterados os sistemas elétrico, de alimentação e arrefecimento. O primeiro lote reformado foi entregue em novembro de 1985.
(Sinal dos “novos tempos” de globalização, desnacionalização e desindustrialização do país, 25 anos depois parte da frota de M113-B do Exército passaria por nova modernização, só que então mediante convênio com os EUA e efetuada por uma empresa estrangeira – a britânica BAE Systems. Na mesma altura foi iniciada a reforma dos equipamentos pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais, no caso realizada segundo projeto e sob supervisão de uma empresa israelense.)
O mais importante – e último – grande projeto de veículo militar com o qual a Moto Peças se envolveu foi o anfíbio rápido para desembarque de pessoal Charrua. Era intenção inicial do Exército apenas modernizar as viaturas M-59, oriundas da guerra da Coréia, porém acabou optando por criar uma nova família, agregando em um só veículo as qualidades do M-59 e do antigo M-113. Iniciados os estudos em 1983, o primeiro protótipo foi apresentado dois anos depois. Blindado para resistir a munições de 7,62 mm, podia ter proteção para armas com o dobro do calibre (até .50), mediante a aplicação de placas cerâmicas nas superfícies externas. Acionado por motor Scania de 394 cv, posicionado na dianteira direita, ao lado do operador, possuía caixa automática norte-americana Allison (duas marchas à frente e ré), suspensão por dez barras de torção e oito amortecedores hidráulicos e propulsão na água por dois hidrojatos. O acesso podia se dar pela larga rampa traseira de acionamento hidráulico, por duas portas localizadas na rampa ou por duas escotilhas no teto; o carro dispunha de seis seteiras e três periscópios, um deles para visão noturna.
Testado pelas Forças Armadas (também a Marinha por ele se interessou), o Charrua demonstrou excelente desempenho e facilidade de manobras tanto na terra (pela capacidade de girar em torno do próprio eixo) como na água (pela agilidade permitida pelo hidrojato). Alguns ajustes foram feitos no veículo, principalmente no exterior, originando o segundo protótipo, Charrua II. Em sua configuração básica o veículo transportava três tripulantes e nove soldados, podendo chegar ao total de 22; o peso variava entre 17 e 23 t, dependendo da versão. A enorme diversidade de usos (eram onze as versões disponíveis) era um dos principais atributos do Charrua: foi projetado para operar como carro-comando, ambulância, socorro, carro-oficina, comunicações, radar, antiaéreo, canhão de 155 mm, lançadores de mísseis, porta-morteiros de 120 mm e transporte de cargas.
O Charrua II permaneceu em testes até os anos 90. Apesar de seus dotes, o corte radical de orçamento sofrido pelas Forças Armadas impediu que o modelo fosse colocado em produção. Em paralelo, a redução das exportações, que levou a indústria brasileira de material bélico à quase extinção, acabou por inviabilizar o projeto, que ficou reduzido aos dois protótipos. Embora se tenha enfraquecido com a falta de encomendas, a Moto Peças – ao contrário da quase totalidade das empresas nacionais envolvidas com o desenvolvimento de material de defesa – conseguiu sobreviver, ainda hoje operando sob a razão social Moto Peças Transmissões S.A..
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